quarta-feira, 28 de março de 2012

Se a Sabedoria tomou conselhos com Deus, à Poesia aconselhou o Rei - O Professor, A Aluna, os simpatizantes

Da Poesia: se os mui antigos lhe conceberam no ventre, ainda antes profetizara o SENHOR: "Dar-ta-ei por filha, ó Rei, e tu lhe darás a luz", de sorte que aqueles, embora com boa fé e preciosa disposição houvessem semeado, debalde semearam, nada ceifando. Eram tais qual a mulher estéril, cujo tremendo esforço empreendido nas lânguidas noites amorosas ainda é pouco, ou nada, para a concreta vinda do primogênito. Insta se apontar, contudo, uma ressalva, haja vista o desconhecimento dos antigos daquilo que hoje se designa Poesia. Significa dizer que, embora lançassem à terra o grão, desconheciam o fruto da semente; obviamente, por contraponto, não se pode alegar o mesmo desconhecimento da parte de um casal que, sequioso por filhos, dia e noite tem lançado grãos.

Assim, conquanto alguns dos muito antigos se detivessem neste primoroso trabalho de dar vida, ritmo, melodia, voz a meras palavras; ou ainda, se derramaram muito estudo nesta arte de lapidá-las, procurando converter pedra bruta em material procurado e precioso, dando-lhes formas nas fôrmas de suas mãos e de seus conhecimentos, fracassaram. Plantaram e não colheram. Conceberam e não deram à luz. Foi como o nascituro que veio a ser natimorto, e perdoem-me a terminologia jurídica da última metáfora.

Ante os fatos, mediante a Sabedoria - concebida no e pelo Senhor - que lhe foi graciosamente concedida, o Rei, filho de Davi, o salmista, não só gerou a Poesia, mas lhe deu rumos, vertentes, caminhos a serem percorridos, agindo ora como Pai, ora como Professor; por exclusão, foi-lhe a Poesia por Filha e Aluna. Os demais, agregados nesta família, simpatizam-se dela , isto é, deleitam-se e se comprazem na Poesia, talhando a pedra segundo seu próprio entendimento, em nada se assemelhando à perfeição com a qual o Rei escreveu, seja ele Homero, Camões, ou Shakespeare.


CÂNTICOS DOS CÂNTICOS
DE SALOMÃO

Esposa
Suave é o aroma dos teus ungüentos,
como ungüento derramado é o teu nome;
por isso, as donzelas te amam.
(...)
Leva-me após ti, apressemo-nos.
O rei me introduziu nas suas recâmaras.
(...)
Eu estou morena e formosa, ó filhas de Jerusalém,
como as tendas de Quedar,
como as cortinas de Salomão.

Esposo
Formosas são as tuas faces entre os teus enfeites,
o teu pescoço, com os colares.
Enfeites de ouro te faremos, com incrustações de prata.
 
Esposa
Enquanto o rei está assentado à sua mesa,
o meu nardo exala o seu perfume.
O meu amado é para mim um saquitel de mirra,
posto entre os meus seios.
Como um racimo de flores de hena nas vinhas de En-Gedi,
é para mim o meu amado.

Esposo
Eis que és formosa, ó querida minha, eis que és formosa;
os teus olhos são como os das pombas.

Esposa
Como és formoso, amado meu, como és amável!
O nosso leito é de viçosas folhas,
as traves da nossa casa são de cedro, e os seus caibros, de cipreste.
Eu sou a rosa de Sarom, o lírio dos vales.

Coro
 Que é isso que sobe do deserto,
como colunas de fumaça,
perfumado de mirra, e de incenso,
e de toda sorte de pós aromáticos do mercador?
É a liteira de Salomão;
sessenta valentes estão ao redor dela, dos valentes de Israel.
Todos sabem manejar a espada e são destros na guerra;
cada um leva a espada à cinta,
por causa dos temores noturnos.
O rei Salomão fez para si um palanquim de madeira do Líbano.
Fez-lhe as colunas de prata,
a espalda de ouro, o assento de púrpura,
e tudo interiormente ornado com amor
pelas filhas de Jerusalém.
Saí, ó filhas de Sião,
e contemplai ao rei Salomão
com a coroa com que sua mãe o coroou no dia do seu desposório,
no dia do júbilo do seu coração.
 
Esposo
(...)
Os teus lábios, noiva minha, destilam mel.
Mel e leite se acham debaixo da tua língua,
e a fragrância dos teus vestidos é como a do Líbano.
Jardim fechado és tu, minha irmã,
noiva minha, manancial recluso, fonte selada.
Os teus renovos são um pomar de romãs,
com frutos excelentes: a hena e o nardo;
o nardo e o açafrão,
o cálamo e o cinamomo, com toda a sorte de árvores de incenso,
 a mirra e o aloés, com todas as principais especiarias.
És fonte dos jardins, poço das águas vivas,
torrentes que correm do Líbano!
 
(..)
(....)
(.......)

Basta

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