segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Façam suas escolhas

(...) enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise.
(...) embriagai-vos; embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha.

                                                                                                    CHARLES BAUDELAIRE


O trecho acima, de Baudelaire, um dos ícones do Simbolismo mundial e grande influente de Cruz e Souza, recomenda a embriaguez... Na verdade, não sem motivo. O fragmento que antecede o exposto acima aconselha: "Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos;".
Em razão deste duro motivo que justifica a ebriedade, e partindo-se da premissa de que essas palavras ecoam de lábios dignos de reconhecimento (Baudelaire, juntamente com Rimbaud e Mallarmé, representa o que há de melhor no simbolismo francês), façam suas escolhas e embriaguem-se...


*********

Vinha há uns dias trabalhando num poema de nome "Leviatã", cujo assunto central é justamente esta besta fera dos mares. No entanto, muito tempo (talvez uns 3 dias, haha) com os esforços voltados a esse mesmo poema me cansou... Portanto, já faz cerca de duas semanas que está intacto. De qualquer forma, postarei um pequeno trecho do poema e, quando pronto, todas as estrofes.
O tédio de "Leviatã" me conduziu a fazer um outro tipo de poesia, na qual trabalhei com um assunto mais infantil, além de ter deixado de lado certos formalismo, apesar de ter mantido os versos decassílabos que aprecio, que podem ser vistos em "Leviatã" e "Sentimentos Verdadeiros", do post anterior. Infelizmente, os rumos que o fazer poético tomou a partir de 1922- com a Semana de Arte Moderna- até os dias de hoje, não me agradam muito.. Contudo, tentando me adequar aos novos parâmetros é que fiz essa poesia: O pique-esconde acaba bem. O resultado foi desastroso, além do mais, a poesia me pareceu meio confusa quando a li após terminada, mas, sinceramente, faltou foi muita disposição para reparos.


Trecho de Leviatã – intrudução e primeira estrofe da 1ª parte:


Leviatã

Ah meu Deus! Senhor dos Céus! Compadece-te!
Afoga na amplidão dos ares isto!
Recordações, vivências, inda queimam
Como velas em chamas infinitas!.......

.............................................................................
.................................................................................................
....................


1ª parte
Ia-se assim a embarcação Cubana
Resvalando, no Cáspio, sobre as vagas
Gozo constante.. e o tilintar das taças
Era o vestígio de alegria insana!...


****************



O pique - esconde acaba bem

Esconde-se o lápis, foge o papel
Ambos se juntam nesta brincadeira
E nestes dias, nestes sóis de fel
Chora o poeta desta manha arteira!

Onde cravar os versos juvenis?
Como escrever – se o lápis faz-se ausente?
Isso questiona-se em angústia, e sente
Um bom pressentimento... Está feliz!

A brancura do sorriso p’ueril
Em alívio oportuno – reluzia
O amargo se fez doce... E presumiu:
“Ah! Acho que fiz uma poesia!”



Até a próxima!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Cara à tapa

"A justiça é como a cobra: só morde os pés descalços."

Acima, frase do já falecido Óscar Romero, sacerdote salvadorenho que se dedicou às funções na Igreja. Foi numa palestra de Direito que pela primeira me chegou aos ouvidos seu parecer sobre a justiça, comparada à cobra talvez por intencionalidade e com intenções implícitas. A comparação me remete, nesse momento, à passagem bíblica que nos revela o caráter traiçoeiro do réptil, quando incita Adão a comer a fruta proibida, desobedecendo a Deus. A justiça, na maioria das vezes, sem margem de erros, também é traiçoeira e eu te digo: não queira cair em suas mãos.


Vamos ao que interessa:
Há cerca de uma semana fiz um poema cujo objetivo a princípio era imprimir a ele traços mais sentimentais.
Buscava fazer algo nos moldes de "Soneto do Anjo" de Álvares de Azevedo, porém consciente da quase impossibilidade de escrever tão inspiradamente quanto ele. De qualquer maneira, os rumos foram outros. Decidi fazer alguma coisa até certo ponto irônica, uma espécie de morde-e-assopra, em versos nos quais houve exaltação da beleza, somada à menção da loucura da personagem central. Além desta, postarei uma outra poesia, bem simples, que fiz há uns 5 meses. Foi uma das minhas primeiras. Ei-las (isso é feio demais e foi de propóstio!):


Sentimentos verdadeiros
Eu a vi... minha fada aérea e pura,
A minha lavadeira na janela!

                        ÁLVARES DE AZEVEDO

Em suaves contornos esculpida
De alvo sorriso, embalsamado em lábios
Purpurinos – brilhas, qual Sagitárius
Casta e formosa, mas endoidecida!

Cândida musa, pálida esperança!
Que terrível é tua insânia bruta...
Inda mais sofre, aquele que perscruta
Teus planos.. onde a insensatez descansa!

Virgem donzela... virginal doçura!
Estampa na beleza e na loucura
A ironia antitética dos Astros

Lembras Afrodite – no encantamento
O Dom Quixote – em vagos pensamentos
E a Ismália louca – reduzida a cacos!


Obs: Ismália nomeia e faz parte de um poema de Alphonsus de Guimaraes.
Obs2: A parte logo abaixo do título, fragmento em itálico de "É Ela!" de Álvares, é apenas uma epígrafe, espécie de nota introdutória ao poema de minha autoria que vem depois.

............................................................................

Ela

Quão preciosa és tu- inacreditável!
Não tens gosto ou cheiro
Mas homens lutam por ti
Sorte tem o Brasil
Aqui estás em abundância
Sob o Aqüífero Guarani

.............................................................................

Até!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Introdução inaugural

Bebamos! Nem um canto de saudade!
Morrem na embriaguez da vida as dores!
Que importam sonhos, ilusões desfeitas?
Fenecem como as flores!
                                               BONIFÁCIO


O que dizer?
Bom, apesar de não gostar, recorri ao blog simplesmente por tê-lo como uma espécie de "quadro" para meus rabiscos e melhor, um quadro virtual, distante das imperfeições de seu primo, o quadro negro, figura arcaica limitada a ser vista pelos "mesmos de sempre"- embora em razão da inexperiência deste que escreve, que salta aos olhos no correr das linhas de seus poemas, haja receio de não ser acessado até pelos "mesmos de sempre". Até? Isso seria muito!
Seguindo a tendência do ditado "a primeira impressão é a que fica", convinha que eu postasse o meu melhor poema, o soneto mais harmonioso, de escolhidas palavras, para, quem sabe, tê-los, vocês, novamente aqui. De qualquer forma, nada de muito interessante tenho ainda.
Via uma notícia sobre a recente confusão no Oriente e me lembrei de um poema de Augusto dos Anjos, uma espécie de poeta parnaso-simbolista. Por ora, é o que deixo, com a omissão de duas estrofes, que não me agradam muito!
Não se turbe no túmulo, Augusto!


UMA NOITE NO CAIRO

Noite no Egito. O céu claro e profundo
Fulgura. A rua é triste. A Lua cheia
Está sinistra, e sobre a paz do mundo
A alma dos Faraós anda e vagueia

Os mastins negros vão ladrando a lua...
O Cairo é de uma formosura arcaica.
No ângulo mais recôndito da rua
Passa cantando uma mulher hebraica

O Egito é sempre assim quando anoitece!
Às vezes, das pirâmides o quedo
E atro perfil, exposto ao luar, parece
Uma sombria interjeição de medo!

Como um contraste àqueles misereres,
Num quiosque em festa alegre turba grita,
E dentro dançam homens e mulheres
Numa aglomeração cosmopolita

Resplandece a celeste superfície.
Dorme soturna a natureza sábia...
Embaixo, na mais próxima planície,
Pasta um cavalo esplêndido da Arábia.

Vaga no espaço um silfo solitário.
Troam kinnors! Depois tudo é tranqüilo...
Apenas como um velho stradivário,
Soluça toda a noite a água do Nilo!

.................................................................

Até mais