segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Cara à tapa

"A justiça é como a cobra: só morde os pés descalços."

Acima, frase do já falecido Óscar Romero, sacerdote salvadorenho que se dedicou às funções na Igreja. Foi numa palestra de Direito que pela primeira me chegou aos ouvidos seu parecer sobre a justiça, comparada à cobra talvez por intencionalidade e com intenções implícitas. A comparação me remete, nesse momento, à passagem bíblica que nos revela o caráter traiçoeiro do réptil, quando incita Adão a comer a fruta proibida, desobedecendo a Deus. A justiça, na maioria das vezes, sem margem de erros, também é traiçoeira e eu te digo: não queira cair em suas mãos.


Vamos ao que interessa:
Há cerca de uma semana fiz um poema cujo objetivo a princípio era imprimir a ele traços mais sentimentais.
Buscava fazer algo nos moldes de "Soneto do Anjo" de Álvares de Azevedo, porém consciente da quase impossibilidade de escrever tão inspiradamente quanto ele. De qualquer maneira, os rumos foram outros. Decidi fazer alguma coisa até certo ponto irônica, uma espécie de morde-e-assopra, em versos nos quais houve exaltação da beleza, somada à menção da loucura da personagem central. Além desta, postarei uma outra poesia, bem simples, que fiz há uns 5 meses. Foi uma das minhas primeiras. Ei-las (isso é feio demais e foi de propóstio!):


Sentimentos verdadeiros
Eu a vi... minha fada aérea e pura,
A minha lavadeira na janela!

                        ÁLVARES DE AZEVEDO

Em suaves contornos esculpida
De alvo sorriso, embalsamado em lábios
Purpurinos – brilhas, qual Sagitárius
Casta e formosa, mas endoidecida!

Cândida musa, pálida esperança!
Que terrível é tua insânia bruta...
Inda mais sofre, aquele que perscruta
Teus planos.. onde a insensatez descansa!

Virgem donzela... virginal doçura!
Estampa na beleza e na loucura
A ironia antitética dos Astros

Lembras Afrodite – no encantamento
O Dom Quixote – em vagos pensamentos
E a Ismália louca – reduzida a cacos!


Obs: Ismália nomeia e faz parte de um poema de Alphonsus de Guimaraes.
Obs2: A parte logo abaixo do título, fragmento em itálico de "É Ela!" de Álvares, é apenas uma epígrafe, espécie de nota introdutória ao poema de minha autoria que vem depois.

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Ela

Quão preciosa és tu- inacreditável!
Não tens gosto ou cheiro
Mas homens lutam por ti
Sorte tem o Brasil
Aqui estás em abundância
Sob o Aqüífero Guarani

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Até!

3 comentários:

  1. Não conhecia esse seu lado não Salo... mandando bem =]

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  2. Você mudou algo no segundo ou terceiro verso de "Ela" que vc me mostrou ou foi mera impressão minha? Agora eu acho que encaixou perfeitamente.

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  3. Teu blog est´aótimo. Tem um "quê" de anacrônico, isso é perfeito. - Quem sabe, um dia talvez, a poesia volta a ser o que era outrora? - Parabéns!

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