quarta-feira, 13 de abril de 2011

Inovando

Esta, agora, em redondilha maior:

Canto à primavera

J’aime, et je veux sentir sur ma joue amaigrie
Ruisseler une source impossible à tarir.
                                                  A. DE MUSSET

Na primaveril aurora
Como enleva o descansar
Sentindo os raios de sol
Que a face põem-se a banhar
Quando a brisa matinal
Nas sombras do laranjal
Desta primavera austral
No rosto vem passear!

Quisera a dama-da-noite
À luz do esplendor do dia
No outono, verão ou inverno
Florir como ora se espia;
Tão logo o inverno se encerra
Não fosse esta primavera
Que a flora recompusera
Emurchecida seria!

E como no balouçar
Duma rede e o cortinado
De nuvens bem alvadias
À noite me vejo alçado;
Decerto co’assaz beleza
Defronte da natureza
Cantigas lá de Veneza
As aves têm ensaiado!

E quando co’ímpeto ondas
À flor da areia embalavam
Na tarde que desfalece
Mais poesia inspiravam;
Ouvindo-as nos recitais
Com as velas nos castiçais
Mancebos tais sem iguais
À primavera saudavam!

Abril 2011

2 comentários:

  1. Quanto puder passe um ano em algum país de elevada latitude e acompanhe todo o ciclo da natureza. Quando vim para cá pude ver o abstrato e poético das obras européias se tornarem reais. Experiência única! É tocar em o que antes só fora poesia.

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  2. Sem dúvida, Marchetti. Seria realmente incrível ver a natureza reproduzir aquilo que conheço só dos versos. Além do mais, nada mais inspirador do que essa atmosfera inglesa, aliás, europeia em geral, que certamente foi objeto de inspiração para muitos dos grandes poetas imortalizados no seio da literatura.
    Abraço!

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